As polêmicas ligadas ao carnaval não são poucas. Além de estimular o “turismo sexual”, da associação ao tráfico de drogas e da lavagem de dinheiro, e para completar esse quadro, um polêmico bicheiro se tornou presidente da Ligas das Escolas de Samba do Rio.
A mídia também é uma das grandes responsáveis pelo desvirtuamento do Carnaval e pelo fortalecimento do crime organizado - que comanda muitas escolas - e pela transformação do Carnaval num grande produto “comercializável”. A principal delas é a Globo que, com seus interesses econômicos, nos faz ver na avenida ex-BBBs, artistas globais, “cantores” etc., que não tem a menor identidade com o samba, muito menos com as escolas e suas respectivas comunidades.
A força daqueles que detém o poder econômico influencia diversos setores da sociedade e deixa a cultura refém do dinheiro e dos lucros. Com isso, o Carnaval, que é uma das maiores manifestações populares do Brasil e quiçá do mundo, não escapou dessa grande investida. Hoje, mais vale para uma escola ganhar o título e atrair “investimentos” que realmente colocar a alegria do povo na avenida, a criatividade, a fantasia, manifestações e protestos, associada às lutas sociais. Nesse aspecto, discordo de um dos maiores carnavalescos de todos os tempos: Joãozinho XXX. Numa entrevista ele diz que “quem gosta de miséria é intelectual”. Na verdade é burguesia que sempre explorou a pobreza para promover seus grandes lucros e sempre se apropriou dos frutos do trabalho alheio.
Longe dessa conjuntura atual onde prevalece a mesmice, a escola de Samba Tradição tem tudo pra fazer um desfile que ficará marcado na história com o resgate do Samba Enredo “Rei Sinhô, Rei Zumbi, Rei Nagô Eu Também Tô Aí, Tô Aí Sim Sinhô”. O samba traz a problemática vivida pelo negro desde a África, a exploração no Brasil na época da escravidão e a situação atual enfrentada pela comunidade negra. Ressalta sua participação e contribuição social para a sociedade brasileira, seja no esporte, na música ou na arte.
Essa composição também mostra a genialidade do saudoso sambista João Nogueira, que foi um dos fundadores da Tradição após romper com a Portela. Ele regravou esse samba-enredo no Disco “De Amor é Bom”, mantendo fidelidade ao ritmo e à letra que fez a escola ser campeã do grupo de acesso, em 1986.
A atitude da Tradição faz com que as escolas de samba repensem suas práticas. A exemplo da Beija-Flor, que comercializou um samba-enredo que “homenageou” a cidade de Poços de Caldas – MG e que recebeu quase 2 milhões de reais por isso, a Tradição também já fez carnavais onde homenageou Silvio Santos (Hoje é domingo, é alegria / Vamos sorrir e cantar, 2001) e a soja (De Sol a Sol, de Sol a Soja - Um Negócio da China!), em 2004, que resultou na péssima 14ª colocação.
Esperamos que o Carnaval de 2010 seja a redenção da escola e resgate sempre temas relevantes para a comunidade, pois, com a Tradição, o cotidiano e a marca histórica do povo foram resgatados e serão novamente colocados na avenida. Essa será uma grande conquista para o povo negro e para a população pobre, pois como diz a letra do samba, “A raça no Brasil tem uma nova cor”.
Segue abaixo o link do samba-enredo: